Olá, meus companheiros noturnos...
Muitos anos sem notícias, hein? Eu acreditei que nem mesmo sabia mais como voltar para este lugar, ou como o fazer, mas com um pouquinho de esforço, tudo pode ser lembrado. Não é mesmo? E aqui estou eu, anos e anos depois, diante de vocês.
Devo dizer que muitas coisas mudaram desde a última vez em que me apresentei por aqui. Agora, não sou mais um menina com muitos anseios e sonhos inalcançáveis; agora eu sou uma mulher. Uma mulher com responsabilidades e diante de um momento decisivo de minha vida.
Daqui dois dias... - sim, dois dias! - Irei realizar uma cirurgia que é aguardada por mim há muito, muito tempo. Esta cirurgia é ao mesmo tempo importante e perigosa e eu me sinto aterrorizada, mas ainda assim, disposta a encarar este novo obstáculo. Eu penso que tudo pode acontecer. É um risco a se correr e pensei que se algo acontecesse, eu ao menos gostaria de ter dito minhas últimas palavras.
Estou confiante que tudo vai ficar bem, mas é um momento difícil. Outrora, eu não teria coragem, eu seria covarde e me esconderia, porém já faz um tempo que decidi assumir quem eu sou verdadeiramente e encarar a vida de frente, ainda que ela me bata muitas vezes como uma tirana incansável.
Acho que todos se lembram o motivo que me levou a criar este mural de sofrimentos. Minha vida toda era um sofrer sem fim, e meus caros... Este ano completa 10 anos desde que eu criei este espacinho. É um ano de muitas décadas em minha vida. Este ano completei 25 primaveras, e este ano também me dou conta de que no dia 12 de junho completa 1 década desde que uma das pessoas mais importante da minha vida, o meu avozinho, me deixou. 10 anos não foram capazes de amenizar a falta que eu sinto, e eu ainda me lembro dele nitidamente, eu ainda não esqueci o seu rosto. Ele não é uma memória perdida em meus sonhos.
Também vão fazer 10 primaveras daquele dia 26 de dezembro de 2009. Aquele fatídico dia em que me deparei com o diabo e o amei como se fosse um anjo. Sim, eu tenho certeza de que sabem do que estou falando, pois o meu pesar estendeu-se por 8 longos anos de muitos prantos, ataques cardíacos, idas e vindas, brigas e sofrimentos, incompreensão e compreensão; amor e ódio.
Sim, meus caros, o amor e o ódio é uma dicotomia tão antiga quanto a humanidade e eu jamais pensei que fosse senti-la tão duramente contra minha carne. A última vez, vocês sabem quando foi... 2014. O último reencontro.
Passamos novos bons momentos juntos, tivemos maravilhosos desabafos e superações. Confiança e perdão. Culpa e arrependimentos. Medos e inseguranças. Amor, carinho, amizade... e ódio.
Ódio em sua forma mais pura e cruel.
E os meus longos anos de completa devoção se transformaram em ódio.
Ódio sem direito a justificativa...
E no fim eu fui odiada e completamente odiada por ser quem eu sempre fui: aquela boba que o amava mais que a si mesma e que gostaria de ser notada por ele novamente, e que queria ocupar um lugar especial em seu coração.
Não me vitimizo mais.
EU SEI das minhas culpas, eu SEI onde eu errei e foram muitos tombos e muitos erros em anos e anos. Todo mundo se cansa, não é? E como ele mesmo disse: se era o meu ódio que você queria, você o conseguiu. Eu te odeio.
Por meses seguidos eu chorei e afundei de novo. Novamente eu não me sentia boa o bastante. Novamente eu era só aquela pessoa ruim. Tão ruim que não era digna de perdão. E depois de me arrastar na minha própria amargura, achei que não encontraria o caminho para a luz novamente.
Ninguém soube disso desta forma como vos falo, meus caros, porque para eles eu sorri, eu acenei e fui feliz, por que o que importa é isso, não é? E na minha tentativa de reconstruir os pedaços de mim, eu acreditei ter encontrado uma parte que me faltava... Esta parte era estonteantemente linda. Com seus 1,93 de altura, seus cabelos negros bem aparados, seus músculos fortes e seu sorriso de menino tímido. Esta pessoa me amparou em seus braços DE VERDADE, e me abraçou com carinho e cuidado e nestes braços eu encontrei uma paz que não sabia ser capaz de sentir.
Estaria eu pronta para voar de novo? Estaria eu apaixonada? Depois de tanto tempo me diminuindo, estaria eu preparada para me entregar?
A resposta, meus caros, vocês já devem saber: NÃO.
Ele era tudo o que eu sempre quis e ainda assim eu consegui quebrá-lo também. Eu consegui afastá-lo de mim e percebi que eu não sei me relacionar com ninguém sem ferir e magoar. Por ser ele tão bonito, eu não conseguia acreditar que ele poderia estar comigo por eu ser EU, afinal, eu não sou bonita como as outras, eu não sou isso e aquilo... SIM, eu fiz de novo.
De novo.
A dor da solidão foi diferente desta vez. Foi insuportável. Sufocante.
Não sei explicar, eu me sentia em um transe eterno, que nunca acabava.
Para ajudar, estava em um novo emprego, sufocante com suas 9h de trabalhos diárias de segunda a sábado. E eu tentei afogar nele todas as minhas dores. Nem preciso dizer que não deu certo, não é? Mas neste lugar eu aprendi muito, cresci como pessoa e amadureci. Neste lugar houve dias que eu comi o pão que o diabo amassou e eu percebi o quanto fui ingrata com tantas coisas que não dei valor. Com isso, lá fui eu procurar ajuda psicológica novamente.
Desta vez, com mais fé. Eu precisava de alguém que me desse os medicamentos mais fortes, algum que curasse a alma de verdade. Isso existe?
No lugar, encontrei uma psicóloga maravilhosa que me desafiou em cada sessão, fazendo-me chorar, e nunca mais querer aparecer em seu consultório. Contudo, de forma extremamente masoquista, na semana seguinte, no mesmo horário e dia, lá estava eu ansiando por ela... esperando por ela.
Esta pessoa me instigou a VIVER por mim mesma, porque até então eu só estava vivendo pelos outros e quando é que eu faria algo por mim? Até eu me questionei isso por um bom tempo. QUANDO É QUE EU FARIA ALGO POR MIM? Até quando eu iria procurar o meu passado com tanto apego e carinho sendo que ele me maltratava e me trazia lágrimas?
Eu entendi, meus caros, que eu não posso mudar o meu passado. Parece um clichê, mas vocês já experimentaram viver no eterno "e se..."? Não? Parabéns a vocês, pois devo dizer que é excruciante. Eu aprendi que eu só posso olhar para ele e seguir em frente. Eu não vou voltar lá, e sei que minhas escolhas lá fizeram este futuro aqui. E que futuro eu estava tentando construir?
Depois de umas 10 sessões, eu já não estava mais chorando. E pasmem, não teve remédio algum! O remédio foi eu mesma olhando para dentro de mim e organizando a bagunça. Comecei por estender minha cama todas as manhãs, pois o caos interior só seria ordenado se eu ordenasse o caos exterior. Não vou dizer que foi fácil, foi um pacinho de cada vez. Um pé depois o outro.
Até que eu comecei a planejar coisas que já tinham morrido em meu interior, e descobri que ainda tinha sonhos ambiciosos e grandes, mas tudo bem eu os ter! Eu tinha que os ter para poder seguir adiante.
Foi assim que eu fechei com uma agência de intercâmbios...
Com medo? SEMPRE! E se tudo der errado? E se eu não me adaptar? E SE EU NÃO CONSEGUIR? Como eu vou conviver com essa derrota? EU SIMPLESMENTE VOU! Porque se eu não for, como posso responder a tais questões? Se tudo der errado, eu volto para casa com a cabeça erguida, porque não deu certo, mas eu tentei e não fiquei acomodada por conta do meu medo. 6 meses depois, eu já tenho emprego de intercambista e uma data para embarcar se o meu visto for aprovado (e por Deus, ele irá!).
Este foi um dos passos mais ousados que decidi dar na última década, e não me arrependo. Junto com ele veio também 20kg a menos que emagreci suadamente, ano após ano, fazendo tratamento, me redescobrindo, voltando a me amar e... com estes 20kgs, apesar de muitas coisas terem dado um UP em minha vida, a minha pele decidiu ser DOWN. Por isso, daqui dois dias irei passar por uma abdominoplastia para retirar a pele flácida... parece uma cirurgia simples, mas por eu estar bem flácida mesmo, ela será associada com uma lipo de contornos para eu ficar mais harmônica. Todo mundo aqui sabe a minha briga com minha aparência e tomar esta decisão foi difícil DEMAIS, eu tenho medo, mas eu vou com medo mesmo. Se puderem me mandar boas vibrações, eu vou ser sempre grata ao extremo.
Essa foi mais uma decisão que tomei por mim. Porque é O MEU sonho de ter um corpo normal, onde eu consiga me olhar sem sentir incômodo. Superficial? Bobo? Quem é você para julgar? Cada pessoa sabe o fardo que carrega.
Com isso, eu deixei de lado aquilo que me fazia mal e estou focada e extremamente focada em um futuro bom. O futuro que eu vou construir para mim.
Alguns amigos ainda permanecessem em minha vida. E estou falando de você, NerdBoy, que orgulho da gente! 10 anos depois e você continua sendo o meu eterno braço direito, meu amor mais sincero dessa vida. Sem você, eu sinto que minha vida não seria a mesma. E novamente me ajudando... desta vez não foi a passar em um vestibular, mas foi a preencher o meu application no site da agência. Cara, se existem anjos nesta Terra, você é o meu.
Nestes 10 anos, novas pessoas preenchem meu coração também, como o meu Lil, minha alma gêmea bipolar que hoje trabalha comigo e é a pessoa que melhor me conhece na atualidade. Ele consegue imaginar minha cara diante de situações que a gente teria reações distintas e eu já imagino a gente. Eu tenho ciúmes dele e não deixo mesmo ninguém chegar perto. Todo o amor que você me dá é retribuído ao quíntuplo. Nem sei explicar.
Também tem minha Maluzera, minha parceira de crime, e que crime hein? Escrevemos um livros juntas! Tudo começou no hospital enquanto eu ficava com minha avó nos seus últimos momentos... passamos as madrugadas mandando capítulos uma para a outra e eu me lembro da minha avozinha me perguntando porque eu ria tanto se estávamos em um hospital. ME DESCULPE, VÓ! MAS somente com a Malu do meu lado eu consegui passar por isso tudo.
Também posso acrescentar nesta lista minha irmã, a Lo, de quem hoje sou amiga e consigo contar tantas coisas. É muito bom ter uma irmã amiga. E posso dizer que a vida foi generosa... ela me deu outra irmã a quem eu sempre soube existir, mas nunca pude conhecer. Su... ela é minha irmã mais velha e tem uma filhinha maravilhosa que posso chamar de sobrinha, minha princesa Laura... E com aquele pequeno ser me chamando de titia, eu me senti tão amada que vi que amor algum no mundo pode ser tão intenso quanto o amor que dedicamos às crianças.
Então, meus caros, o que posso dizer disso tudo? Já se passaram 10 anos desde aquela brincadeira na internet para tentar ser alguém diferente de mim, 10 anos desde que eu fui do inferno ao céu e de novo ao inferno. Neste momento estou na Terra e com os pés bem firmes.
Foram 10 anos me transformando na pessoa que eu sou hoje; cheia de cicatrizes, de defeitos, mas com um coração que se manteve bom. Eu podia odiar também, eu podia dar o meu desprezo, me vitimizar e fingir que sempre fui uma coitada, mas eu aceitei que eu sou boa.
Eu não vou odiar quem me fez conhecer o amor em sua forma mais pura, eu vou ser eternamente grata.
Eu não vou me fechar para este sentimento após tanta dor, eu vou me manter neutra, e se acontecer, vai ser como se fosse a primeira vez.
Eu não vou me vitimizar e dizer que estou certa; sei dos meus erros e do erro alheio, e aceito e respeito a decisão. Se um dia isso mudar, que bom, o perdão regenera o coração, mas se não acontecer, Ele sabe o que faz.
Então, eu vou continuar errando, mas jamais deixar de tentar. E não sei quando voltarei para lhes dizer alguma palavra, mas gostaria de pedir, mais uma vez, que me mandem boas vibrações. Tudo o que fazemos de bom ao próximo será refletido em dobro para nós, não é?
Um beijo grande no coração de vocês;
de sua eterna sofredora.