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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Um conto... A faca de Prata III


Continuarei aqui o meu conto meus queridos e fiéis leitores!

A faca de Prata

Autora: Letícia Maria de Godoy.
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Foram exatamente oito dias... Então na tarde de domingo João Paulo entrou em casa arrastando Louise pelos cabelos. Ela gritava e chorava desesperada, fiquei horrorizada com a cena tomando as dores dela para mim.
Ele a trancou no quarto furioso e eu corri para falar com ela. Entrei usando a chave de minha mãe, ela chorava mordendo os travesseiros jogados sobre a cama e eu me aproximei passando as mãos em seus cabelos.
— Amiga! O que aconteceu? — Perguntei com a voz trêmula.
— Eles o prenderam Moninha! Meu pai nos encontrou em São Paulo... Um lugar tão grande e ele nos achou, foram os dias mais felizes de minha vida e acabaram tão depressa! Mona... Amiga... Eu estou grávida! Grávida de Rafael!
As palavras dela me comoveram, Louise ia ser mamãe. Mas isto seria um choque para os seus pais, e assim como imaginei Deirdre abriu a porta do quarto com tanta fúria, olhando para sua filha com repulsa, nojo.
— Você é a vergonha de nossa família Louise. Como ousou fugir com aquele rapaz? Nos fazendo passar uma imensa vergonha perante os Ferracini. Como pode?
— Mãe eu o amo.
— Ama? E com o passar dos tempos você teria de trabalhar para poder garantir o seu sustento porque ele não teria dinheiro, você gostaria de ser uma empregadinha assim como a sua amiguinha? Diga a ela como é bom esfregar o chão Mônica!
— Não ofenda a Mona... Sabe mãe você sente inveja de mim porque eu fiz o que você nunca teve coragem! Eu fui em busca da minha felicidade não me importando apenas com o dinheiro, a riqueza ao contrário de você que se casou por interesse e nunca foi feliz!
— Cale a boca garota você não sabe nada sobre mim!
A discussão fez com que ambas se exaltassem e Louise se aproximou da cômoda próxima a janela pegando algo em mãos que eu não pude identificar e continuou falando.
— Eu sei sim... Sei de seu passado! Do seu romance com o jardineiro! E você vem dizer que eu sou uma vergonha? Tem certeza? Olhe para você! É uma mulher morta mamãe... O que tem de bela tem de amargurada... Então agora me diga, dinheiro compra o amor mamãe?
Os olhos de Deirdre queimavam, ela sem pensar duas vezes avançou contra Louise com raiva.
—Você é uma vergonha Louise, você!
Ao dizer isto Deirdre agarrou-a pelos cabelos com voracidade, e então Louise pegou o objeto que tinha em mãos o cravando no peito de sua mãe que a empurrou pela janela, eu assisti a cena sem conseguir gritar, nem me mover. Os gritos de Louise sendo arremeçada pela janela foram abafados pelos de Deirdre que caiu desfalecida ao chão, então eu vi a faca de prata usada por Louise em aulas de jardinagem completamente ensanguentada...
Desmaiei... Acordei horas depois assustada e instantaneamente lágrimas me vieram a face, e então limpei a garganta para poder falar.
— Onde está Louise? O que aconteceu? — Olhei para minha mãe aflita.
— Louise está viva minha filha, em coma profundo, mas viva e Deirdre acaba de ser enterrada... — Ela me respondeu lamentavelmente.
Meu Deus! Deirdre estava morta! Louise matou sua própria mãe e agora estava em coma...Meses depois fiquei sabendo que com a queda ela perdera o bebê e seu estado não havia mudado em nada, e seu corpo funcionava por aparelhos.
João Paulo Fontanele logo após a desgraça quase enlouquecera, caindo em depressão. Bebia todas as noites e foi ficando cada vez pior... Eu ia todos os dias visitar Louise no hospital e após três anos recebi uma carta de Rafael dizendo que havia saído da cadeira e soubera do que aconteceu a sua amada, dizia que sentia muito, mas não queria vê-la praticamente morta em uma cama de hospital e que por isto seguiria para o Rio de janeiro trabalhar em um teatro... Fiquei decepcionada! Porque eu ainda tinha esperanças de vê-la sorrindo para mim, viva!
Com tudo isso fui ficando cada vez mais próxima de Fernando e começamos a namorar, uma coisa boa em meio a tantas tristezas. E quando me casei com Fernando anos mais tarde minha mãe continuou morando com senhor Fontanele cuidando dele.
Sete anos em coma, e então senhor Fontanele autorizou que desligassem os aparelhos... Eu sofri muito, minha amiga não veria ao meu bebê que estava por vir e nunca mais sorriria para mim. O corpo foi velado e enterrado na mansão e com isto João Paulo abandonou a casa indo morar em um apartamento, levando minha mãe com ele.
Minha filha nasceu e era um bebê tão lindo, acho que foi um dos dias mais felizes de minha vida e assim que a olhei lembrei de minha amiga... Demos a ela o nome de Jeanne Louise em homenagem a minha eterna irmã.
E aos poucos Jeanne foi crescendo se transformando em uma linda menina. Nós nos mudamos para a cidade vizinha onde Fernando conseguiu um bom emprego de administrador em uma empresa multinacional. Levávamos uma vida sossegada e sempre ensinei a Jeanne Louise que mais vale o amor verdadeiro do que muito dinheiro e contava sobre a história de minha amiga para ela, das festas que ela costumava dar e principalmente de sua história de amor e sobre como nós duas éramos inseparáveis.
Hoje minha filha tem treze anos e retornamos a cidade para o enterro de minha mãe que morreu após uma parada cardíaca, voltar ao lugar me trouxe as lembranças da juventude e por isto retornei a mansão Fontanele, completamente vazia nesta manhã, assim como permaneceu durante todos esses anos...
Acordei de meu devaneio, ainda sentada no balanço e percebi que lágrimas rolavam por minha face. As limpei calmamente e suspirei fundo. As memórias me deixavam triste, mas ao mesmo tempo traziam a essência da verdadeira amizade, aquela que sobrevive através dos tempos e nada pode apagar...
Terminei de olhar o lugar e coloquei uma flor no túmulo de Louise, quando já estava no portão da frente para ir embora uma sensação de paz, uma alegria invadiu o meu ser e eu olhei para trás emocionada, naquele instante eu consegui ver Louise correndo pela grama sorrindo e saltitando e então fechei os olhos guardando aquela imagem dentro de meu coração, a minha amiga ainda vivia, vivia para aqueles que não deixavam a sua essência sumir de dentro de sua alma...
Fui embora me sentindo muito mais leve e tendo a plena certeza que ela estava em um bom lugar, nos olhando e nos protegendo com sua bondade... Eu jamais esquecerei da imagem que vi ao retornar a mansão, e percebi que a felicidade é conquistada através de pequenos atos e que não devemos reclamar de tudo e de todos.
Eu, Mônica Grimmald, hoje sou completamente feliz. Tão feliz a ponto de fazer com que Louise jamais seja esquecida e a nossa história de amizade seja eterna.
Fim.

Um comentário:

  1. Terminei essa história e estou digitando nesse momento com lágrimas nos olhos.Parabéns por despertar emoções nas pessoas!

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