Social Icons

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Para entender a cabeça de um verdadeiro gótico...Parte 1


Pessoal percebi que muita gente tem preconceito contra os góticos por entender que gótico pratica goticismo e ponto.
Mas a nossa subcultura é muito maior do que isso por isso tentarei lhes contar mais ou menos como é que é ser gótico e como eles surgiram...
Mas começarei pelo período dos godos, e esse povo se dividiu em mais outros dois os ostrogodos e visigodos... vejamos como tudo aconteceu...

História


O gótico foi a língua de dois povos germânicos: os visigodos e os ostrogodos. Os mais antigos textos germânicos, excetuando-se umas poucas inscrições rúnicas, são fornecidos por esta língua. Esses textos são procedentes da tradução que Ulfilas fez da Bíblia no século IV e de outros materiais do século VI.

A história primitiva dos godos é obscura. Tradicionalmente o historiador do século VI Procópio afirma que se deslocaram a partir de Götland no leste da Suécia até a região costeira próxima à desembocadura do rio Vístula no século I a.C.; Tácito informa a existência dos gotones até o ano 98 d.C. na mesma região. Até o ano 200 d.C. emigraram até a região meridional da Rússia, alcançando o Mar Negro, na região do Mar de Azov. Pode-se distinguir dois grupos: os visi (“bons”) e os ostrogodos (godos orientais). Posteriormente a designação visigodos se introduziu e foi interpretada como “godos ocidentais”, pois geograficamente estavam localizados no lado oriental do Império Romano e após a queda dos romanos na Península Ibérica a partir do século V junto com outros grupos germânicos, de cujas línguas só são conhecidos os nomes (burgundios, vândalos, etc.). Os godos e sua língua são enquadrados entre os germânicos orientais, em contraste com os povos germânicos setentrionais e suas línguas da Escandinávia e os germânicos ocidentais da Europa central.

No século IV os godos estavam em estreito contato com o Império Romano Oriental; os cativos das batalhas eram cristianizados e a nova religião era introduzida por outros meios também. Os avós de Ulfilas foram feitos cativos em uma incursão romana no povoado de Sadagolthina, na Capadócia, no ano de 264 d.C. o que leva a supor que Ulfilas foi educado na fé cristã. No ano de 336 viajou como parte de uma delegação à corte imperial e ali abraçou a doutrina ariana em sua forma homoiana. Por esta razão, quando Ulfilas retorna ele leva consigo esta forma de cristianismo, do que pode-se supor que os godos se fizeram arianos e quando invadiram o Império Romano, fundaram reinos cuja inspiração religiosa é desta índole. O fim político e militar dos godos ocorre em 555 quando os ostrogodos são derrotados pelo general Belisário e no ano de 711 quando os visigodos na Espanha são derrotados pelos exércitos muçulmanos.

Alfabeto

Ulfilas' Gothico, bem como os Skeireins e vários outros manuscritos foram escritos usando um alfabeto que mais provavelmente foi inventado por Ulfilas para as suas traduções. Alguns estudiosos, como Braune, acreditam que simplesmente deriva do Alfabeto grego, enquanto outros afirmam que há letras góticas de origem Runica ou Latina.

Este Alfabeto gótico não tem nada haver com Escrita gótica, que foi usada para escrever o alfabeto romano do Século XII até o Século XII e evoluiu mais tarde para o Fraktur_(script), associação tipica com escrita Germânica.


Godos e a Origem:

godos (Gótico: Unicode: 𐌲𐌿𐍄𐌰𐌽𐍃, Gutans) eram um dos povos germânicos que, de acordo com suas tradições, era originário das regiões meridionais da Escandinávia (especificamente de Gotland e Götaland). Eles migraram em direção ao sul e conquistaram partes do Império Romano na Península Ibérica e na Península Itálica[1]

Duas tribos muito próximas, os Gutar e os Götar, permaneceram na Escandinávia e também são freqüentemente chamados de godos, são tratados separadamente, como gotlanders e geats respectivamente. Segundo sua própria lenda, relatada pelo historiador godo Jordanes em meados do século VI, os godos, sob o comando do rei Berig, chegaram em três barcos ao sul do mar Báltico, onde se instalaram após derrotar os vândalos e outros povos germânicos. O historiador romano Tácito registra que, nessa época, os godos se distinguiam por usarem escudos redondos e espadas curtas e obedecerem fielmente a seus reis.

O povo godo abandonou a região do rio Vístula, que corresponde à atual Polónia, durante o reinado de Filimer, na segunda metade do século II, e chegou ao mar Negro após muitas aventuras. Foi possivelmente a pressão dos godos que obrigou outros povos germânicos a exercerem, por sua vez, uma forte pressão na fronteira do Danúbio com o império romano, na época do imperador Marco Aurélio. Durante o século III, foram muitas as incursões godas nas províncias romanas da Anatólia e da península balcânica: eles saquearam as costas asiáticas, destruíram o templo de Éfeso, chegaram a penetrar em Atenas e avançaram sobre Rodes e Creta. Durante o regime de Aureliano (270-275), obrigaram os romanos a se retirar da província da Dácia, no outro lado do Danúbio.

Os godos que viviam entre os rios Danúbio e Dniester receberam o nome de visigodos ("godos do oeste"). Os do outro ramo, que no século IV se haviam estabelecido na área que viria a ser a Ucrânia, foram denominados ostrogodos, nome que significa "godos do leste" (em alemão diz-se Westgoten e Ostgoten, o que significa "Godos do Oeste" e "Godos de Leste", respectivamente, segundo a Wikipédia em alemão -

Beowulf, o herói do poema épico homônimo, era um Godo.

A primeira fonte histórica


A única fonte da história inicial dos godos é a Getica de Jordanes (publicada em 551), um resumo da história dos godos em doze volumes perdida, que foi escrita por Cassiodoro por volta de 530. Jordanes nem mesmo deve ter tido o trabalho nas mãos para consulta, e esta fonte primária deveria ser considerada com cuidado. Cassiodoro estava no lugar certo para escrever sobre os godos, por ser ele um dos principais ministros de Teodorico o Grande, que certamente havia ouvido algumas das canções góticas que falavam de suas origens tradicionais.

Vários historiadores, inclusive Peter Heather e Michael Kulikowski, argumentam que a Getica de Jordanes apresenta uma genealogia fictícia de Teodorico e uma história fictícia dos godos por propósitos de propaganda, e lançam dúvida sobre a origem escandinava, sobre as supostas dinastias reais e sobre o suposto reino de Ermanerico no século IV.[2][3].

Outras fontes principais para a seqüência da história gótica incluiem a "Historiae" de Amiano Marcelino, que menciona o envolvimento gótico na guerra civil entre os imperadores Procópio e Valente em 365 e relata a crise dos refugiados e a guerra gótica de 377-382 e o "de Bello Gothico" de Procópio de Cesareia, que descreve as Guerras Góticas de 535-553.

De acordo com Jordanes, os godos são originários da Escandinávia (Scandza). Seu local de origem mais específico foi provavelmente Gotland ou possivelmente Götaland na atual Suécia. Eles teriam se separado das tribos próximas, os gutar (gotlanders) e talvez dos götar (geats, citados como gautigodos e ostrogodos por Jordanes), que são à vezes incluídos no termo godos por volta do século I (mas a Gutasaga deixa aberta a possibilidade do contato prolongado). Eles migraram para sudeste ao longo do Vístula durante o século II (a Gothiscandza de Jordanes; ver cultura Wielbark), estabelecendo-se na Cítia, que eles chamaram de Oium ("terras das águas") a partir do século II (ver cultura Chernyakhov). De acordo com contos lendários, a capital desse reino era Árheimar, no rio Dnieper.

Apesar da maioria dos guerreiros nômades demonstrassem ser sanguinários, os godos eram temerosos porque os cativos capturados nas batalhas eram sacrificados ao seu deus da guerra, e as armas tomadas eram penduradas em árvores como oferendas. Seus reis e sacerdotes eram procedentes de uma aristocracia separada e seus reis míticos do passado eram honrados como deuses.

Invasões góticas (267-269 d.C.).

No século III, os godos se dividiram em dois grupos, os Tervingi ou visigodos ("godos ocidentais") e os Greuthungi ou Ostrogodos ("godos orientais"). Os visigodos iniciaram uma das primeiras grandes invasões "bárbaras" do Império Romano a partir de 263, saqueando Bizâncio em 267.[7]. Um ano depois, eles sofreram uma derrota devastadora na batalha de Naissus e foram expulsos para além do Danúbio em 271. Esse grupo então se fixou e estabeleceu um reino independente centralizado na província romana abandonada da Dácia.

Tanto os ostrogodos quanto os visigodos nitidamente se romanizaram durante o século IV pela influência do comércio com os bizantinos, e por sua participação em um pacto militar com Bizâncio para ajuda militar mútua. Eles se converteram ao arianismo durante esta época. A dominação huna do reino ostrogodo iniciou-se na década de 370, e sobre a pressão dos hunos, o rei visigodo Fritigern em 376 solicitou a Valente (então o imperador romano do oriente) que permitisse que ele se estabelecesse com seu povo na margem sul do Danúbio. Valente deu a permissão, e até mesmo ajudou os godos a cruzar o rio, provavelmente na fortaleza de Dorostorum, mas devido à escassez eclodiu a guerra gótica de 377-382, e o imperador Valente foi morto na batalha de Adrianópolis.

Os visigodos sob Alarico I saquearam Roma em 410. O imperador Honório concedeu-lhes a Aquitânia, onde eles derrotaram os vândalos e em 475 já governavam a maior parte da península Ibérica.

Enquanto isso, os ostrogodos se libertaram do domínio huno após a batalha de Nedao, em 454. A pedido do imperador Zenão I, Teodorico o Grande a partir de 488 conquistou toda a Península Itálica. Os godos foram brevemente reunificados no começo do século VI, sob o ostrogodo Teodorico o Grande, que se tornou regente do reino visigótico após a morte de Alarico II na batalha de Vouillé, em 507. Procópio de Cesareia, escrevendo nesta época, interpretou o nome visigodos significando "godos ocidentais" e ostrogodos como "godos orientais", o que correspondia à distribuição de então dos reinos godos.

O reino ostrogodo persistiu até 553 sob Teia, quando a Itália caiu brevemente sob controle bizantino, até a conquista dos lombardos em 568. O reino visigodo durou mais, até 711 sob Rodrigo, quando capitulou à invasão omíada da Andaluzia.


Origens

Explicando as origens dos godos, Jordanes relata:

O mesmo mar poderoso alcança também na sua região ártica, que está no norte, uma grande ilha chamada Scandza, a partir de onde minha narração (pela graça de Deus) deve ser iniciada. Quanto à raça cuja origem vocês procuram saber, que avança como um enxame de abelhas a partir do centro dessa ilha e penetram nas terras da Europa. [...] Agora saindo dessa ilha de Scandza, a partir de uma colméia de raças ou de um útero de nações, os godos foram chamados a sair de sua terra há muito tempo atrás por seu rei, chamado Berig. Tão logo eles desembarcaram de seus navios e puseram os pés em terra, eles imediatamente deram seu nome ao lugar. E até hoje esse lugar é chamado Gothiscandza. Logo os godos se deslocaram dali até o local onde residiam os Ulmerugi, que então habitavam às margens do Oceano, onde montaram acampamento, entraram em batalha com eles e os expulsaram de seus lares.[8]

No século I, Tácito localizou os Gothones ao sul do Mare Suebicum, o mar Báltico:

Para além dos Lugii residem os Gothones, sob o governo de um rei; e por isso mantém sujeição mais rígida que as outras nações germânicas (sic), mas não tão rígida para extinguir toda sua liberdade. Imediatamente a eles estão os rugios e os lemovianos na costa do oceano, e o que caracteriza estas nações são um escudo redondo, uma espada curta e um governo real.

Plínio, o Velho os chamou de Gutones. De acordo com Plínio, eles eram um dos maiores povos germânicos, sendo um dos cinco. Ele também afirma que o explorador Píteas de Massilia (século IV) os encontrou em sua expedição a um "estuário" no norte, (o mar Báltico, pelas referências de Plínio ao âmbar encontrado nas praias). Uma data anterior ao século I é dessa forma confirmada. Estrabão também menciona que Marbod, após passar um tempo agradavelmente com Augusto, passou a comandar quase todas as tribos da Germânia, inclusive dos Boutones. que é geralmente interpretado como uma grafia equivocada para Goutones, latinizado Gutones. Para os godos escandinavos, nós temos Ptolomeu, que menciona os Goutai vivendo no sul da ilha de Skandia.

Devido à figura central que os godos têm desempenhado na história, suas origens têm sido discutidas por muito tempo. Embora nenhuma teoria alternativa tenha sido proposta para o surgimento de tribos germânicas no que hoje é o norte da Polônia (região da antiga Prússia Oriental), alguns historiadores têm dúvidas de que os godos sejam originários da Escandinávia. Isto deve-se ao fato de que, não se levando em consideração Jordanes, as mais antigas evidências literárias não ambíguas sobre os godos (Tácito e Plínio, o Velho) os coloca no Vístula no século I. Alguns afirmam que não há evidências conclusivas para uma migração à época do nascimento de Cristo, e assim acreditam que a origem escandinava deveria ser tomada como uma inventio.

Por outro lado, o acadêmico alemão Wenskus aponta que se Jordanes quisesse ter inventado um passado fictício para os godos, ele teria afirmado que eles seriam descendentes de um local de mais prestígio como Tróia ou Roma. Ele não teria localizado suas origens no norte bárbaro. Além disso, ele estava escrevendo para godos que eram familiares às suas tradições. Além dos escritos de Jordanes, há evidências lingüísticas e arqueológicas que apóiam a origem escandinava (A velha disputa entre arianos do Leste Eslavo x Arianos do Oeste germânico que tenta pôr em cheque a imparcialidade histórica real nos limites entre as Europas do Centro e Leste).

Estrutura social

Fontes arqueológicas, literárias e históricas iluminam a estrutura social gótica.

Do século I ao IV



As evidências arqueológicas são procedentes das culturas Wielbark e Chernyakhov. As evidências literárias incluem a Paixão de Santa Saba assim como a tradução da Bíblia de Úlfilas. As evidências históricas incluem a Historiae de Amiano Marcelino e a História da Igreja de Filostórgio entre outras.

Arqueologia

A área verde representa a extensão tradicional de Götaland e a área em lilás é a ilha de Gotland. A área em vermelho representa a extensão da cultura Wielbark no começo do século III, e a área em laranja representa a cultura Chernyakhov, no começo do século IV. A região em púrpura representa o Império Romano

Na atual Polônia, a mais antiga cultura material identificada com os godos é a cultura Wielbark, que substituiu a cultura Oksywie local no século I. A substituição aconteceu quando um assentamento escandinavo foi estabelecido na zona de separação entre a cultura Oksywie e a provavelmente cultura Przeworsk vândala.

Todavia, durante o final da Idade do Bronze Nórdica e o começo da Idade do Ferro Pré-romana (c. 1300 a.C. - 300 a.C.), esta região sofreu influências do sul da Escandinávia. De fato, a influência escandinava na Pomerânia e no atual norte da Polônia a partir de 1300 a.C. foi a partir daí tão considerável que esta região é às vezes incluída na cultura da Idade do Bronze Nórdica.

Acredita-se que os godos tenham cruzado o mar Báltico em algum momento entre o fim da Idade do Bronze Nórdica (300 a.C.) e o ano 100 de nossa era. De acordo com pesquisas antigas, na tradicional província sueca de Östergötland, evidências arqueológicas mostram que houve uma despovoação geral durante este período. No entento, isto não é confirmado nas publicações recentes.

Os assentamentos na atual Polônia provavelmente correspondem à introdução de tradições funerárias escandinavas, tais como círculos de pedra e menires, que indicam que os primeiros godos preferiam sepultar seus mortos de acordo com as tradições escandinavas. O arqueólogo polonês Tomasz Skorupka afirma que a migração a partir da Escandinávia é uma questão confirmada:

Apesar das muitas hipóteses controversas quanto à localização da Scandia (por exemplo, na ilha de Gotland e nas províncias de Västergötland e Östergötland), o fato é que os godos chegaram ao que hoje é a Polônia vindos do norte cruzando o mar Báltico em barcos é certo[21].

No entanto, a cultura gótica também parece ter tido continuidade a partir das antigas culturas da região, o que sugere que os imigrantes se mesclaram com as populações nativas, talvez fornecendo sua aristocracia em separado. O acadêmico de Oxford, Heather, sugere que foi uma migração relativamente pequena a partir da Escandinávia. Este cenário tornaria a migração através do Báltico similar a muitos outros movimentos populacionais na história, tal como a invasão anglo-saxã, onde os imigrantes impuseram suas próprias cultura e língua sobre as locais. A cultura Willenberg/Wielbark se deslocou para sudeste em direção à região do mar Negro a apartir da metade do século II. Foi a parte mais antiga da cultura Wielbark, localizada a oeste do Vístula e que possuía tradições funerárias escandinavas, que iniciou o deslocamento. Na Ucrânia, eles se impuseram como governantes da cultura Zarubintsy local, provavelmente eslava, formando a nova cultura Chernyakhov (c. 200 - c. 400).

Há evidências históricas e arqueológicas de contatos contínuos entre os godos e as populações do sul da Escandinávia durante as migrações dos primeiros no século VI.

Padrão de assentamentos

Os assentamentos Chernyakhov ficavam nos campos abertos nos vales dos rios. As casas incluem residências subterrâneas, residências de superfície e barracas. O maior assentamento conhecido (Budesty) possuía 35 hectares. A maioria dos assentamentos era aberta e não fortificada. Algumas fortalezas são também conhecidas.

Práticas funerárias

Os cemitérios Chernyakhov incluem funerais de cremação e de inumação; entre os últimos, a cabeça está para o norte. Alguns túmulos foram deixados vazios. Objetos encontrados nas tumbas incluem cerâmica, pentes de osso e ferramentas de ferro, mas quase nunca qualquer arma.

Línguas

O gótico é uma língua germânica arcaica com claras ligações com as línguas da Europa Central e do Norte. É a única língua germânica oriental bem registrada.

De acordo com pelo menos uma teoria, há conexões língüísticas mais próximas entre o gótico e o norueguês antigo que entre o gótico e as línguas germânicas ocidentais. Além disso, havia duas tribos que provavelmente eram relacionadas mais de perto com os godos e que permaneceram na Escandinávia, os gotlanders e os gautas. Essas tribos foram consideradas como sendo godos por Jordanes.

O fato é que virtualmente todas as características fonéticas e gramaticais que caracterizam as línguas germânicas setentrionais como um ramo separado da família de línguas germânicas (sem mencionar as características que distinguem os vários dialetos noruegueses) parecem ter se expandido em um estágio posterior àquele preservado no gótico. O gótico por sua vez, sendo uma forma extremamente arcaica do germânico em muitos aspectos, todavia desenvolveu características próprias que não são compartilhadas com outras línguas germânicas.

No entanto, isto não exclui a possibilidade dos godos, dos gutar e dos gautas serem tribos relacionadas. Similarmente, os dialetos saxões da Alemanha são mais próximos do anglo-saxão que qualquer outra língua germânica ocidental que sofreu a mudança consonantal do alto alemão (ver lei de Grimm), mas as tribos são definitivamente idênticas. Os jutos (em dinamarquês jyder) da Jutlândia (em dinamarquês Jylland), na Dinamarca Ocidental, são pelo menos etimologicamente idênticos aos jutos que partiram daquela região e invadiram a Grã-Bretanha junto com os anglos e saxões, no século V. No entanto, não há fontes escritas remanescentes que associem os jutos da Jutlândia com qualquer outro dialeto germânico setentrional, ou os jutos da Grã-Bretanha com qualquer dialeto germãnico ocidental. Dessa forma, a língua nem sempre é o melhor critério para distinção étnica ou tribal e sua continuidade.

Os gutar (gotlanders) possuíam entre suas tradições orais histórias de uma migração em massa para o sul da Europa, escritas no Gutasaga. Se os fatos estiverem relacionados, seriam um caso único de tradição oral que sobreviveu a mais de mil anos e que de fato antecede a maioria das principais divisões da família de línguas germânicas

Origem do nome "godo" (*Gut-)

Os nomes gutar e godos são etimologicamente ditos sinônimos etnônimos. Próximo, mas não da mesma origem, é também o nome tribal escandinavo gauta. Os godos e os gutar são derivados de *Gutaniz enquanto gauta é derivado do proto-germânico *Gautoz (plural *Gautaz). *Gautoz e *Gutaniz são duas apofonias de uma palavra proto-germânica (*geutan) que significa "derramar, verter, espalhar" (sueco moderno gjuta, alemão moderno giessen, gótico giutan) e que designa as tribos como "espalhadores de sementes", ou seja, "homens, povo"[29]. Gauti, o mais antigo herói gótico, registrado por Jordanes, é geralmente observado como uma corruptela de Gaut.

Interessantemente, registros em norueguês antigo não distinguem os godos dos gutar e ambos são chamados Gotar em norueguês antigo ocidental. O termo em norueguês antigo oriental para godos e gutar parece ter sido Gutar (por exemplo, na Gutasaga e na inscrição rúnica da Rökstone). No entanto, os gautas são claramente distinguidos dos godos/gutar nas literaturas do norueguês antigo e do inglês antigo.

Uma segunda teoria, de menor força, liga o povo com o nome de um rio que atravessa Västergötland na Suécia, o Göta älv, que escoa do lago Vänern para a baía Kattegat. No período pré-histórico, esse rio tinha um fluxo maior que o atual. A interpretação, todavia, utiliza uma analogia de nomeação geral indo-européia, tal como Dutch, Deutsch, man, human, etc. e era a preferida de Jordanes, que via os godos com procedentes da Escandinávia.

A raíz indo-européia da derivação "espalhar" seria *gheu-d- como ela está catalogada no The American Heritage Dictionary of the English Language (AHD) ("Dicionário da Herança Americana da Língua Inglesa"). *gheud- é uma forma centum. O AHD apóia-se em Julius Pokorny para a mesma raíz (p. 447).

  • g a partir do *gh e um *t a partir do *d. Esta mesma lei mais ou menos rejeitou *ghedh-, raíz do inglês "good" no sentido de "goodman" ("pai de família"), como sugerem alguns. O *dh neste caso se transformaria em um *d no lugar de um *t. Quando e onde os ancestrais dos godos deram-se este nome e se eles o usaram na época do indo-europeu ou do proto-germânico permanece uma questão não resolvida de lingüística histórica e arqueologia pré-histórica.

De acordo com as regras de apofonia indo-européia, a graduação plena *gheud- pode ser substituída por *ghud- ou *ghoud-, relatando as várias formas para o nome. O uso de todas as três formas sugere que o nome derive de um estágio indo-europeu.

Um nome composto, Gut-þiuda, o "povo gótico", aparece no calendário gótico (aikklesjons fullaizos ana gutþiudai gabrannidai). Além dos godos, este jeito de nomear uma tribo é apenas encontrado na Suécia.

Como mencionado acima, o nome dos godos é identico ao dos gutar, os habitantes de Gotland, uma ilha do mar Báltico. O número de similaridades que existiam entre a língua gótica e o gútnico antigo fez o proeminente lingüista sueco Elias Wessén considerar o gútnico antigo como sendo uma forma de gótico. O mais famoso exemplo é que tanto o gútnico quanto o gótico usavam a palavra lamb para carneiros jovens e adultos. Ainda, alguns reivindicam que o gútnico não é mais próximo do gótico que qualquer outra língua germânica.

Significado simbólico

A relação dos godos com a Suécia se tornou uma parte importante do nacionalismo sueco, e até o século XIX a opinião de que os suecos eram os descendentes diretos dos godos era comum. Hoje, acadêmicos suecos identificam isso como um movimento cultural chamado Goticismo, o qual inclui um entusiasmo por assuntos em geral do norueguês antigo.

Na Espanha medieval e moderna, os visigodos são considerados como sendo a origem da nobreza espanhola. De alguém agindo com arrogância, seria dito que está "haciéndose los godos" ("fazendo a si mesmo descendente dos godos"). Por causa disto, no Chile, Argentina e Ilhas Canárias, godo era uma ofensa étnica usada contra espanhóis europeus, que no início do período colonial se sentiam superiores às pessoas nascidas nas colônias (criollos).

Esta reivindicação espanhola de origens góticas conduziu a um confronto com a delegação sueca no Concílio de Basiléia em 1434. Antes que a assembléia de cardeais e delegações pudessem iniciar as discussões teológicas, eles tinham que decidir como se sentar durante os procedimentos. As delegações das nações mais importantes estavam sentadas mais próximo do papa, e havia também disputas para quem ficaria com as melhores cadeiras e quem teria seus assentos em esteiras. Neste conflito, o bispo de Växjö, Nicolaus Ragvaldi invocou que os suecos eram descendentes dos grandes godos, e que o povo de Västergötland (Westrogothia em latim) eram os visigodos e que o povo de Östergötland (Ostrogothia em latim) eram os ostrogodos. A delegação espanhola então respondeu afirmando que apenas os godos "preguiçosos" e "sem iniciativas" que haviam ficado na Suécia, enquanto que os godos "heróicos", por outro lado, tinham deixado a Suécia, invadido o Império Romano e se estabelecido na Espanha.

A religiosidade gótica


Para entender a religiosidade gótica, temos que entender suas origens e fundamentos.

Os Godos descendem dos Istaevones, cujos ancestrais na Escandinávia parecem ter sido os Ingaevones, primariamente involucrados com a agricultura e com o culto a Ing e sua Consorte.
Contudo os aspéctos mais importantes da religião gótica, estavam centralizados ao redor do culto de Gaut.

O culto dos Vanes, sobreviveu por séculos entre os Godos.
Mesmo após sua migração para o Sul, existe evidência de adoração Vánica entre os Godos.

Um nome rúnico gótico "...enguz...", indica um Deus Ing.
A paixão de Santa Saba, um antigo documento romano, estabelece que ao final do período pagão, os godos carregaram uma deidade de madeira em um carro.

Este era levado a todos os Godos, e a estes era pedido que o adorassem como um sígno de lealdade a antiga religião, já que os cristãos haviam começado a ganhar adeptos entre os godos nesse tempo
Os sacerdotes góticos inclusive levaram esta estátua de culto através do Danúbio, quando os Godos fugiram dos Hunos no ano de 375, da vulgar era cristã.
Como evidência de um culto antigo associado com o culto de Gaut, a Gutasaga (Saga dos Gotlandeses), pode relatar a história do êxodo original desde Gotland, e pôde preservar alguns elementos da antiga lenda Gáutica.
De acordo com a Saga, Gotland, a Ilha no Báltico, estava enfeitiçada por poderes sobrenaturais que cusavam a fusão das tardes com as manhãs, em trevas, nas quais a ilha se erguia ou afundava.
O primeiro homem que chegou a ilha foi Tjelvar.
Ele acendeu o primeiro fogo e o levou através da Ilha. Este ato sacralizador pôs fim ao contínuo processo de escuridão na Ilha.
Este mito vindo da patria original dos Godos, tem alguma base na realidade, pois tal como os Geólogos sabem, a Ilha realmente se ergueu afundou diversas vezes.

E as Sagas dos Gotlandeses continua contando:
"...E Tjelvar teve um tilho chamado Hafdi. E Hafdi teve uma esposa chamada Estrela Branca. Eles foram as primeiras pessoas assentadas em Gotland.
A primeira noite dormiram juntos e ela teve um sono no qual 3 Serpentes estavam entrelaçadas em seu peito, e parecia a ela como se escorrecem para fora de seu peito.

Ela contou a seu esposo Hafdi sobre seu sonho, e ele lhe explicou o sonho desta forma:

- Cada coisa esta amarrada a outras por meio de anéis, e esta terra chegará a ser habitada!

- E teremos três filhos!!

E ele lhes deu nomes antes de nascerem:

-Goti possuirá Gotland, o Segundo será Greip e o Terceiro Gunnfjon.


Depois dividiram Gotland em três partes, de modo tal que Greip o maior teve a parte Norte, Goti teve a parte Central, e Gunnfjon, o menor, a parte Sul (Arne Torp, Nordisk sprak i Nordisk og germansk perspektiv)....."

O pai fundador Gotlandês, Goti, não é outro que Gaut, o antigo pai fundador dos Godos. Snorri, na Edda Maior, e quase todas as demais evidências nos autorizam a identificar claramente a Gaut como Woden.
De Jordanes aprendemos que Gaut era considerado o pai fundador dos Godos, e que dele descende a linhagem real dos Amali.
A Vida do Rei Alfred de Asser, afirma que os reis de Wessex são também descendentes de Geat, e que "...os pagãos o adoraram muito tempo como um Deus...".
Muitas outras linhagens reais germanicas descendem de Gaut também.
A raíz proto-germanica do nome do Deus é "...Gautaz..." ( gótico Gáuts; antigo inglês Geat; antigo nórdico Gautr; ou, Gauti; antigo alto alemão Koz; mencionado pelos lombardos e turíngios como Gaus; associado com os gentilicios suécos Goet, Goter, Gutar: habitantes da Suécia e de Gotland), provavelmente associado com o antigo nórdico "...Lat..." e "...Juter...", como Jutos (de Jutlandia).
O significado de Gautaz é "...Arremeter ou verter adiante...", "...fluente..." ou "...inundação..." .
A menção mais antiga encontrada deste nome, está em uma fíbula de Illerup, na Dinamarca (ano 200 da vular era cristã), que leva a inscrição rúnica "Gautr". Jan Czarnecki, descreve o nome dos Godos como "...o povo que vive a cerca do Gautelfr..." ( o rio Gota em Vastergotaland, Suécia), de onde se considera que os Godos são originários.

Esta interpretação toma o siginificado como "...fluir..." , o qual está associado com o fluxo do rio.

Muitos nomes de rios através das terras germanicas, contem um elemento "...Got ou Gut..." .
Talves o nome possa reflexar auspiciosamente a Chuva (depois do sacrifício), que nutre a terra.
O nome também tem sido interpretado como significando o verter adiante do sêmén, assim significando simplesmente "...humano..." .
Não há nenhuma dúvida de que "...Gaut..." estava associado com um culto de Fertilidade Humana, e particularmente a respeito da origem da nobresa.

Ake Hultkranz conecta Gaut ao mito da criação em que Vodan da vida ao primeiro casal humano:
- Gaut então teria "...vertido vidaa e alento neles..." .
Em um contexto maior, a palavra Gaut pode ser associada com sacerdotes e sua função, quando consideramos que a antiga realeza descendia dos Deuses, e neste caso de Gaut, e era um dever sagrado que imputava ao rei ser primeriamente o Sumo Sacerdote da Tribo, e assim, ultrapassando as funções de um sacerdote, um quadro maior começa a emergir.

O contexto do culto da fertilidade régia, o vaso ao qual passa o divino sangue de Gaut, é o Rei em si mesmo, pois o vaso e o conteúdo do vaso, são um só com o Rei.
É possívelque a maioria do material lendário e mítico de muitas Tribos Germanicas, seja de origem gótica, tal como é comumente considerado.
Os Godos deixaram um sencivelmente pequena quantidade de material escrito por eles próprios, porém a vida e feitos dos Reis, e heróis góticos, chegaram a ser a base das lendas populares comuns Pan-Germânicas - os arquétipos da tradição poéticas através de todo o mundo germânico.
A influência gótica pode ser especialmente observada na poesia anglosaxã, na Edda poética e prosaica, assim como em muitas outras fontes nórdicas.
Ma poesia nórdica, a referência aos "...godos..., é as vezes considerada honorária, ou simbólica, porém a causa de que as histórias Éddicas claramente usam material Gótico, é razoável suspeitar que as hístórias mencionando os godos, possam ser de origem gótica.

Depois de tudo o uso do termo "...godo...", através da Edda não é diferente do usado na Canção de Hamdhir, onde é aceito como verídica refência a Tribo Gótica.
Se este é o caso, isto pode situar potencialmente a história do Grimmnismal, que menciona aos Godos, no assentamento do que poderia haver sido o Reino Gótico de Geiroedh, contudo isso é altamente especulativo.
No final do Rigsthula, Kon é instruído par air a Batalha e ganhar as terras de Danr e Danpr:

"...Tem Danr e Danpr, suntuosas salas, rica e melhor herança que a vossa, bem a suas naves eles comandam..."

Contudo não pode ser provado que o Rígsthula tem sua origem na Tradição Gótica da Ucrania, a menção de Danpr demonstra que o Poeta estava certamente consciente de uma tradição assim, seja diretamente ou em outra forma, preservada entre os nórdicos.
Danpr é também mencionado junto como Bosque Obscuro (que separava as terras dos Godos das terras dos Hunos), na canção de Atlia.

Outras fontes que preservaram histórias e heróis góticos são a Volssungasaga, que relata o conto de Ermanaric, e a Thidrekssaga, que contém histórias da maioria dos heróis góticos.
Um aporção significativa do conteúdo das Eddas e sagas, podería potencialmente ser de origem gótica. Já que existem as fontes principais dos mitos germâncos, algumas das versões sobreviventes podem ser versões góticas.

A "...Batalha dos Godos e dos Hunos...", uma parte da Heidhrekssaga, é uma importante preservação do antigo material poético, lendário e mitológico gótico, e é essencial para entender a tradição lendária Gótica/´Pan-Germânica.
Isso é fundamental a respeito da sobrevivência da lenda gótica na fonte nórdica.
Este poema é entendido como proveniente de uma antiga tradição poética, originada entre os próprios Godos.
Christopher Tolkien, comenta sobre este poema que "...contém elementos que vem de uma muito remota antiguidade...", e a qual "...contém nomes e motivos mais velhos que a Noruega da idade Viking, onde foi dada sua forma final...", e que "...a grande idade deste poema se vê em sua métrica, já que tem muito em comum com muito da poesia germânica ocidental, e os poemas Éddicos mais antigos como o Hamdhismal, com grande variação na longitude silábica de suas línhas, contrastando com as mais intrincadas canções da Edda.
O sentido de certas palavras evidencia que algum poeta pré-nórdico, preparou o poema.
Somos muito afortunados com o fato de que o bispo Wulfilas, registrou o idioma gótico no século 4, provindo-nos de tal modo com a "...mais antiga linguagem germânica registrada..." .
Todos os demais idiomas germânicos sobreviventes datam pelo menos de muitos séculos depois, e mostram grandes divergências com o proto germânico, contudo, o gótico certamente tem muito em comum com o proto germânico.
Alguns tem sentido que o gótico é o idioma germánico mais próximo "...ao idioma dos deuses...", que os Sagrados deram a nosso povo muito tempo atrás.
Wulfilas contudo não tinha em mente que estaria provindo-nos de informações de extrema importância, acerca dos antigos idiomas germânicos, aos eruditos de séculos depois.
O que púde sutilmente sentir é a compreenção do antigo pensamento gótico que ele preservou - algo que só poderia haver sido indagado a partir de sua linguagem.
Porém sem duvida o que provavelmente jamais imaginou, e o que certamente lhe teria causado grande pena, é que 1650 anos depois, a linguagem por ele escrita seria usada como base para o renascimento do culto pagão tradicional gótico.
O Gótico foi o idioma oficial do Impétio Huno, e também foi falado por outros povos "...góticos...": Gépidos, Vândalos, Rugios, Escirios, Hérulos, Burgundios. E também por não germânicos, tais como os Hunos, Alanos e Sármatas.

Os godos

Do étnico ao estético

Como um verbete de dicionário, reuni sob o termo "gótico" todas as concepções artísticas errôneas que tinham chegado até mim, quer de indefinido, de imoderado, de artificial, de improvisado, de enfeitado, ou de supérfluo. Com a mesma cultura que a de um povo que chama tudo que provém do estrangeiro de "bárbaro", tudo o que não se encaixava no meu sistema era "gótico". - Johann Wolfgang von Goethe, Da arquitetura alemã.

Rumo ao sul

A palavra Gotar, antigo título escandinavo dado a heróis de guerra, deu nome a uma tribo da ilha Götaland, na Suécia. Segundo lendas da Era do Bronze, os Gotars descendem do deus Gaut, um ancestral mítico, que se enforcou numa árvore por nove noites, descobrindo as runas (mistérios) do mundo nos domínios da morte. Tido como um dos vários nomes de Odin, algumas teorias defendem que Gaut significa "aquele de Götaland", mas algumas publicações como o Edda-dictionary o contextualizam na mitologia nórdica, traduzindo-no como "eleito a ser sacrificado".

Parte desta tribo belicosa rumou ao sul e desembarcou no litoral alemão, estabelecendo-se posteriormente nas redondezas do Mar Negro como uma confederação de tribos germânicas, os Godos (que reuniam as tribos Gotar, Ýtas e Gutar, entre outras), unidos pela religião. Entretanto, as investidas dos Hunos os dividem entre os que se concentram na Ucrânia (Ostrogodos - "Godos do Leste") e os que buscam proteção nas montanhas da Transilvânia (Visigodos - "Godos do Oeste"). Em 375, os Hunos subjugam os guerreiros Ostrogodos, que, escravizados, engrossam os exércitos inimigos como mercenários.

Visigodos

Por sua vez, os visigodos continuam a penetrar no continente, sofrendo profundos choques culturais conforme se deslocam. Ao migrarem para o Oeste, enviam embaixadores à Romênia esperançosos de se anexar ao Império Romano. Propunham, caso obtivessem razoável porção de terra, converter-se ao cristianismo e se submeter às ordens do Imperador Valens, que prontamente os aceitou. Entretanto, receberam terras estratégicas, que os transformariam num escudo vivo contra a invasão de outros povos.

Conforme previsto pelo acordo, o bispo visigodo Ulfilas inventa um alfabeto próprio com base nos caracteres gregos e latinos, fazendo com que o gótico se torne a primeira língua germânica possível de ser lida e escrita. A Bíblia é imediatamente traduzida, mas o cristianismo pregado aos visigodos incute no Arianismo, uma heresia cristã do século IV que racionalizava alguns aspectos do Novo Testamento ao negar, por exemplo, a natureza divina de Jesus. Convertidos, cerca de duzentos mil visigodos cruzam o Danúbio e se deparam com preços e impostos opressores. Rapidamente endividada, a maior parte dos bárbaros se vê obrigada a comprar em mercados insalubres, onde mal podem pagar pela carne dos cães que morriam adoecidos...

Cadavera Vero Innumera

Agravando a situação, os refugiados não obtém nenhuma autonomia política e passam a atrair preconceito por suas singularidades religiosas e lingüísticas. Os mercadores passam a exigir os filhos dos endividados como pagamento, destinando as crianças à escravidão.

O general romano Lupicinius convida Fritigern, um líder visigodo, para que tentem encontrar uma solução ao impasse. Era uma cilada. Fritigern escapa ileso e incita seu povo a reagir. Famintos e desmoralizados, os Visigodos vislumbram uma chance de recuperar sua dignidade e, em 378, preferindo morrer em combate a sucumbir à fome, matam Lupicinius e todo seu exército. Roma envia reforços, mas os bárbaros invadem, saqueiam e incendeiam a cidade de Adrianópolis (matando o Imperador Valens), numa das piores derrotas da história do Império.

Theodosius, que assume o leste europeu após a morte de Valens, articula acordos com os Visigodos e lhes concede privilégios fiscais que asseguram uma convivência mutuamente proveitosa. Ambos os lados estreitavam laços de lealdade, mas os sucessores de Theodosius sinalizam mudanças e cancelam as isenções que viabilizavam a paz. Surpreendidos, os Visigodos elegem Alarico seu novo rei, na urgência de assegurar a solidez de seu recém conquistado reino. Treinado pelas tropas romanas, Alarico escolhe a Itália como local de implantação de seu reino. Preperando-se, seu exército começa a pilhar cidades gregas pelo caminho, conseguindo mantimentos e escravos.

Humilhados, os romanos são tomados por um forte racismo anti-germânico e massacram famílias inocentes de Ostrogodos que lutavam em seus próprios exércitos. Foi o suficiente para que - após décadas de separação - os mercenários enfurecidos se unissem aos Visigodos que, fortalecidos, derrubam várias outras cidades. A ousadia maior data de 410, ano em que invadiram, pilharam e depredaram nada menos que Roma, a opulenta capital.

Esta apunhalada no orgulho romano foi apenas uma das diversas amostras da vulnerabilidade em que se encontrava seu extenso e frágil Império. Após o traumático saque, os visigodos absorveram outras tribos e culturas, fixando um reino católico que se estendia do norte da Itália ao noroeste da Espanha. Os Ostrogodos conquistaram sua independência em 454, através das conquistas de Teodorico-o-Grande. Quando o Império ruiu, em 476, o rei Visigodo Odoacro reivindicou a Itália e seu reino continuou se expandindo até ser finalmente desmantelado na conquista da Península Ibérica pelos Mouros, em 711.

Idade das Trevas

Em 395, Constantino muda a capital de Roma para Constantinopla - o marco que separa a Antigüidade da Idade Média. A lenta queda do Império Romano engendra profundas transformações, o modo de vida germânico se mescla ao dos derrotados, mas suas culturas são tão diferentes que a herança greco-romana é prontamente descartada, permanecendo praticamente esquecida por mais de três séculos. Superstições passam a influenciar as leis e as relações sociais refletem os diversos tipos de pactos dos germânicos.

Fatiado em vários reinos pelos invasores, o continente europeu tem suas rotas comerciais estranguladas pelas fronteiras. Como o dinheiro não circula, a propriedade agrícola volta a ser a base da produção, obrigando a população urbana a se espalhar pelo campo. As cidades minguam e a sociedade medieval se reorganiza ao redor dos latifundiários, iniciando o que seria conhecido como Senhorialismo. Limitando sua soberania apenas às suas terras, os reis estabelecem relações de lealdade com os senhores feudais. Ao ceder terras e títulos de nobreza, os reis obtêm o apoio militar destes proprietários-patriarcas que, por sua vez, exercem cada vez mais poder em seus territórios.

As conseqüências da ruralização sobre a cultura foram devastadoras. O baixo povoamento das áreas rurais inviabiliza a educação e a Europa mergulha num analfabetismo quase absoluto. Na arte, há o predomínio das tradições bárbaras, cuja produção é, devido ao caráter nômade das tribos, estritamente ornamental, limitando-se geralmente a pequenos objetos como pingentes, brincos, pulseiras e colares. No século VII, o único foco de preservação e transmissão da cultura clássica era a Igreja. As escolas para a formação do clero - as únicas instituições educacionais da época - eram muito procuradas pelas famílias aristocráticas. Assim, os descendentes dos bárbaros são progressivamente convertidos ao catolicismo e a Igreja passa a desempenhar um papel crucial na sociedade, influenciando até mesmo as decisões do Estado.

"Gótico" (Relativo aos Godos)

Destrua o ídolo. Purifique os templos com água benta. Espalhe relíquias por lá e deixe que eles se tornem templos do verdadeiro Deus. Assim, as pessoas não terão a necessidade de mudar seus locais de celebração. Deixe-os continuar a peregrinar para onde eles sacrificavam seu gado aos demônios, pois no dia do santo ao qual a Igreja for dedicada, eles matarão seus animais não mais como um sacrifício, mas como uma refeição social em honra à Aquele que agora veneram. - Instruções do Papa Gregório VIII, século XII.

Assistir as construções e monumentos greco-romanos serem destruídos por estrangeiros traumatizou a tal ponto o imaginário italiano que a consciência da Queda do Império foi transmitida através das gerações com requintes de amargura. Mais tarde, no Renascimento do século XVI, a palavra godo se torna uma generalização que resume a idéia do "inculto que desrespeita a arte clássica". É nesta época e contexto que surge um novo conceito de "arte gótica". Inicialmente usada como "arte própria dos godos", a expressão se torna uma classificação cunhada para depreciar o valor da arte cristã produzida entre o séc. XII e XVI, época em que a Igreja adotara a estratégia de absorver as estéticas pré-cristãs dos locais onde se instalaria, incluindo até mesmo arabescos e referências pagãs em sua arquitetura.

Assim como os godos (cristãos hereges) invadiram Roma (cristãos católicos), esta arquitetura cristã "impura" - com suas ogivas, gárgulas, vitrais e filigranas - predominou sobre a arquitetura românica, que seguia à risca os padrões clássicos. Desta forma, mesmo tendo gerado manifestações multiformes nestes quase quatro séculos de duração, estes estilos divergiram tanto da "norma" italiana que renascentistas como Giorgio Vasari e Raffaello Sanzio, com a intenção de conferir-lhes uma aura de vulgaridade, agruparam-nos todos sob um termo pejorativo e xenófobo: "gótico".

O que eles não sabiam é que, ao batizar assim tudo o que se opunha ao clássico, eles haviam outorgado uma coesão ao caos obscurantista medieval que, de outra forma (sendo encarado de maneira fragmentária), dificilmente teria o peso que adquiriu como oposição ao equilíbrio estético clássico. Isto logo viria a ser comprovado. Assim como os artistas italianos repudiaram a Idade Média com um Renascimento Clássico no século XVI, a aristocracia inglesa repudiou o Iluminismo com um Renascimento Gótico no século XVIII...
Guerras Góticas de Roma
de Michael Kulikowski
Páginas: 248

Em fins de agosto de 410, Roma passava fome, seus habitantes brigavam entre si e, para piorar a situação, o exército gótico acampado às portas da cidade estava agitado.

O comandante dos godos era Alarico, um general romano e chefe dos bárbaros. Liderando um exército que tinha pouca comida e que poderia entrar em motim, saquear Roma era a única solução.

O antigo centro do Império Romano sucumbiu à espada de um conquistador pela primeira vez em 800 anos: durante três dias, os godos de Alarico saquearam a cidade eterna. Nas palavras de um autor da época, a mãe do mundo havia sido assassinada.

A saga de Alarico é o clímax de uma longa jornada histórica pela qual os godos se tornaram parte do mundo romano.

Como aliados ou inimigos do império, eles estão entrelaçados com a história mais ampla de Roma nos séculos III e IV. Guerras Góticas de Roma explica como os godos surgiram nas margens do mundo romano, como os diferentes grupos góticos lidavam com o enorme poder de Roma na fronteira de suas terras e como, durante dois anos traumáticos, milhares de godos entraram nas províncias imperiais e destruíram o exército que foi enviado para combatê-los, deixando o imperador da cidade eterna morto no campo de batalha.

Diferentemente de outras histórias sobre os bárbaros, Guerras Góticas de Roma mostra exatamente como os historiadores modernos entendem os godos, os motivos para tal interpretação e por que a nossa visão a respeito deles é tão controversa.

Bom pessoal terminarei a postagem da segunda parte da história do gótico em outra postagem mas por enquanto leiam e pensem!
Obrigada pela antenção!

2 comentários:

  1. Orra, uma bruta duma aula de história!! =D

    Parabeeens, Leh! Vi que teus post ficaram mais maduros, tá ótimo! =D

    ResponderExcluir
  2. Ai que bom que gosto! BOm tenho que pública a segunda parte meio sem tempo mas irei fazer isso

    ResponderExcluir